segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre dor, o que fica e o que passa

Não existe música que explique. Livro que descreva. Chocolate que absorva.

Dor não é gripe, não é coisa que dá e passa.

Pois eu sofri, sofri bastante, e se disser que não sofro mais estaria mentindo.

Sabe como eu me sinto? Como se eu tivesse corrido quilômetros e quilômetros e chegasse à lugar nenhum. Enquanto eu vivia nessa esperança cega, eu voava, eu nunca toquei esse solo frio e duro, e agora eu caí. Mas eu caí feio, viu? Foi pouca merda, não. Eu segui uma bússola quebrada e me perdi. Fiquei tanto tempo em cima do muro sobre desistir ou persistir, e sempre que eu decidia largar tudo ele me aparecia e dizia "vem que vai dar certo, pula que eu te seguro". Cadê? Segurou porra nenhuma. Olha pra mim, toda ralada, toda estabacada, olhando pro céu e tentando encontrar um bom motivo pra me levantar.
Como um tapa na cara que tivesse acabado de ser dado, e eu andando na rua e todo mundo vendo a marca da mão vermelha no meu rosto.

O problema era o jeito que ele me olhava. Por Deus, juro que ele via meu olho, e atrás do meu olho meu cérebro, e atrás de tudo minha alma, e era onde eu sentia aquele frio que desce todo o corpo, que me fazia respirar fundo, me fazia sorrir sem mais nem menos. Que era onde eu estava, por trás de quilos de corpo, sangue e tudo o mais que se dê pra ver - tudo o que eu sou sem ser de verdade. Pois pra ele era tudo isso uma grande transparência, e o que ele via e tocava em mim era muito mais fundo que isso. Ele se aproximou tanto de mim, eu deixei, era uma sensação boa, ter alguém tão em você que você não precisava fingir absolutamente nada, que não faria sentido algum, mesmo. E cada vez que ele me olhava eu sentia que eu dava algo de mim. Ele não tirava; eu dava, eu jogava pra ele. Mas ele não pegava.
Ele. Não. Pegava.
Eu via isso? Não sei. Ele estava de braços cruzados, e eu tola que sou, que sempre fui e provavelmente sempre serei jogava partes importantes de mim pra ele, partes frágeis, como se fossem de porcelana.
Crash. Crash. Craaaaaaaash, uma por uma caía e se espatifava no chão.
Diz pra mim, o que é que acontece com a gente, quando a gente gosta de alguém, que a gente não vê uma merda dessas acontecendo?
E aí, ele se virou um dia e foi embora. O que sobrou? Sobrou isso que se dá pra ver, recolhendo todos os quilos do resto de um eu que eu nem sabia que poderia se desprender de mim - mais ainda, que eu poderia voluntariamente, deliberadamente, estupidamente desprender de mim pra jogar na vala.



Pois cada vez que a gente tem que se recolher a gente fica diferente. Fica mais frio. Mais fechado. Como não? Não existe uma marca na testa indicando quem fará bem pra gente. Poderia existir, yeap, mas não existe. Supere.
Sei bem o que dizem. Que é assim mesmo, que a gente tem que quebrar a cara, que vão aparecer melhores, que estarão de braços abertos pra receber com amor o que tivermos a oferecer para eles. Me falam que eu mereço mais que isso. Melhor que isso. Que não vale eu sofrer por isso.
Show.
Manda me adicionar no Facebook, que eu procurei horrores e até agora nada.

Mas te digo uma coisa, com a certeza de quem sabe que dois e dois são cinco: a gente fica, sim, mais forte.
Quero dizer, em pequeno/médio prazo. Na hora se alguém dissesse que minha blusa me engordava eu entrava em colapso histérico. E na hora eu quero dizer nas largas horas que se transformaram em dias desde que eu caí. Mas hoje já é uma dor intocável. É uma dor que não encontra mais forças pra aumentar. Diminuir aos poucos, um passo de cada vez. Não adianta dizer "sai dessa" e parará, magicamente a Xuxa derruba o meu baixo-astral. Mas com o tempo ela (a dor, não a Xuxa) vira uma cicatriz muito pequena, dessas que a gente mostra com orgulho pros outros, lembrando dos tempos de moleque quando a gente sabia de tudo e nada, mas nada mesmo, poderia nos afetar. Pra lembrar que a gente erra. E que a gente aprende. E que a gente se cansa de olhar pro céu, que de nada nos ajuda, e decide se levantar por conta própria. Cair de novo, obviamente, mas cada vez mais seguro do tamanho da queda.

E que uma hora ou outra a gente se levanta. E que talvez um dia a gente vá cair pro lado certo.

4 comentários:

  1. Eu adoro quando você escreve e publica. Mesmo. Aquela coisa, as dores são sempre parecidas...

    Saudades.

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  2. Adorei, Mayra. Certamente muito bem sentido.
    Estou te seguindo. Caso também se interesse em me ler pode entrar no meu mundo: www.bocadodevida.blogspot.com

    Um beijo.

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  3. Parabéns, pelo texto. Já estou seguindo seu blog! Hahaha, logo vou querer ler mais (=

    Beijo.

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  4. adorei... minha parte favorita descreveu perfeitamente como nos sentimos "e sempre que eu decidia largar tudo ele me aparecia e dizia "vem que vai dar certo, pula que eu te seguro". Cadê? Segurou porra nenhuma. Olha pra mim, toda ralada, toda estabacada, olhando pro céu e tentando encontrar um bom motivo pra me levantar."
    parabéns!

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