segunda-feira, 7 de maio de 2012

Vício

(latim vitium, -ii) 

s. m.
1. Defeito ou imperfeição.

2. Prática frequente de acto considerado pecaminoso.
3. Tendência para contrariar a moral estabelecida. = DEPRAVAÇÃO, LIBERTINAGEM
4. Hábito inveterado. = MANIA
5. Dependência do consumo de uma substância (ex.: vício do álcool).
6. Erro de ofício.
7. Erro habitual no uso da língua.
8. Mau hábito ou costume que as bestas adquirem.


Eu sou uma viciada. 

Dizem que o primeiro passo pra superar um problema é admitir que você tem um e falar sobre isso. E eu estou admitindo. E eu estou dizendo que eu quero superar. Por isso, vou lhes contar minha história.

Não sei quando entrei nesse vício. Acho que, como todas as drogas, eu comecei achando que não era nada. Que eu poderia me livrar quando quisesse. Que eu não sofreria com a abstinência. Que era, como dizem? Casual. E era bom, e eu me sentia bem, eu me sentia bem mesmo quando me sentia mal. E isso cresceu, cresceu tanto dentro de mim que eu já não me imaginava direito sem. Não parecia certo sem. Chegou a tal ponto que me trazia mais desconforto que acalanto, mas eu ainda assim não abria mão. Chegou a tal ponto que eu já sabia que não tinha mais controle, mas eu não fiz nada. Eu me deixei ser alastrada, como um câncer que você desiste de tratar e só deixa aquilo ali crescendo em você, te destruindo um pouquinho a cada dia.

Tentaram me alertar. Por Deus, muito mais de uma, duas, setecentas vezes. No começo eu pensava que os outros não viam o que eu via, mas depois eu descobri que era eu que não enxergava o que era tão óbvio. Aos que me alertaram e eu não ouvi, peço desculpas. A gente tem que cair pra perceber o tamanho da dor do tombo. Eu caí. Me levantei. Caí de novo. Fiz isso tantas vezes que não tenho ideia do número. E a promessa de que 'a partir de agora vai ser diferente, a partir de agora eu estou no comando e só usarei doses moderadas' foi uma grande mentira. Eu voltava sempre, sempre exagerada, sempre angustiada, sempre por poucos momentos de êxtase pra depois cair de novo.

Me sinto muito boba falando isso. Muito idiota, escrevendo tudo. Espero ler um dia e pensar 'como eu fui idiota, como eu era idiota'. Enquanto eu escrevo eu penso em parar, fechar tudo, ir dormir e amanhã eu verei tudo de uma maneira diferente, vou pensar diferente, mais claro, vou saber lidar melhor. Mas eu acho que é isso que todo viciado pensa. Por isso eu vou continuar escrevendo.

Eu já tentei parar. Algumas vezes, tentei várias coisas pra me afastar de tudo aquilo. Pra me sentir indiferente. Força de vontade eu sempre tive. Mas é que às vezes o nosso corpo, o nosso coração se desentende com o cérebro. Não ouve a voz da razão. E aí você volta ao vício mesmo sabendo que tá errado. Que não vai te levar a lugar nenhum. Que não vai te trazer bem nenhum, gente, bem nenhum.

Até que você cai com tudo, de novo. Só que tem vezes - como essa - que dói mais do que as outras.

E de novo eu me encontro tentando parar. Tentando largar. Tentando seguir em frente. E dizem que admitir, falar em voz alta, contar pros outros ajuda a gente a ter uma dimensão maior e melhor, e só assim a gente pode avançar. Então eu digo à vocês que eu vou tentar parar, dessa vez pra valer. Por mais idiota que pareça escrever isso, por mais que eu ache isso de escrever e compartilhar ridículo, eu pelo menos estou tentando. De novo.

Eu sou viciada em alguém, alguém que não merece nenhuma linha de pensamento, nenhuma música de dor e de amor, nenhum segundo de uma noite em claro pensando em como seria legal a gente juntos, e pensando em todas as vezes que a gente brigou e que de alguma forma acabava tando tudo bem, ele errou, eu errei um pouco - nunca. Eu nunca era a errada nas situações, mesmo que ele insistisse no contrário e eu acabasse cedendo por cansaço e por gostar demais pra não querer que acabasse. Eu errei nessa de gostar de alguém que não merece ser gostado. Que não merece nem um sorriso, muito menos uma lágrima. Eu errei, e continuo errando.

Continuo errando porque, por mais que a gente saiba do erro, a gente insiste nele. Não por idiotice. Não por esperança. Não por fé.








Por vício. E eu sou uma viciada. Uma viciada. Uma viciada tentando largar o vício. Essa é a minha história.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quando o amor acaba

Quando acabou? A maioria das pessoas não sabe dizer ao certo, mas eu sei. Um dia eu acordei e sabia que ele não estava mais lá. Que ele tinha ido embora. O amor pegou as coisas dele, bateu a porta e saiu pra não voltar.
E não foi culpa de ninguém. Foi culpa da vida, mas a gente não pode exatamente culpar a vida - as pessoas culpam, mas é como culpar o ar pela sua nota em uma prova. A vida é uma coisa tão maior que você e ao mesmo tempo é você - como culpar alguma coisa tão sem substância e tão maleável assim? Não dá, gente. Não cabe.
Como eu ia dizendo, não foi culpa de ninguém. O que acontece é que o amor, como todas as coisas, acaba. Definha. Perde peso. Às vezes se renova, e é bonito quando acontece, mas às vezes não. Não é bonito, mas acontece como tantas coisas acontecem e não são bonitas nem feias - simplesmente acontecem. Também não é triste. Tem uma melancolia própria, mas tristeza? Não. Tem aquela saudade boa, mas não mais do que isso. Não abre um buraco no seu coração, não te deixa sem rumo...é só uma coisa que acontece.
Eu acordei, sentei na cama, respirei e senti. Só senti. Olhei as coisas em volta, as roupas, os perfumes de cada um, as fotos juntos. Peguei uma delas e me veio a sensação de que aquele casal da foto não era mais o mesmo. Nada tinha acontecido; o sentimento que havia naquela foto não estava mais lá. Só isso.
Ele entrou no quarto, olhou pra mim sem dizer nada, sem sorrir. Eu olhei de volta, igual. Eu suspirei, ele sentou na cama. Eu o abracei, ele apertou forte meu braço. Eu senti as lágrimas caindo do meu rosto, o encarei e ele chorava também. A gente se beijou. E foi um beijo bom. Foi um beijo por tudo que a gente tinha vivido. Todas as coisas boas e todas as coisas ruins.

Foi um beijo de despedida.

Eu disse "foi tão bom....". Ele sorriu, segurou meu rosto com as mãos e disse "foi mais do que bom. Foi a melhor coisa que podia ter me acontecido". Se levantou, me deu outro beijo curto e saiu. Me deitei, tentando sentir no gosto do beijo o amor que durante tanto tempo me consumiu - mas nada. É o que dizem, que amor é fogo que arde. Arde mas apaga. É eterno enquanto dura, mas apaga. E quando chega a sua hora, não há lenha que atice. Não é infinito. Apaga.

E o que sobra? Além das fotos, dos presentes, dos amigos feitos juntos, dos amigos dele que viraram meus e dos meus que viraram dele. Sobra o carinho um pelo outro, aquele olhar na mesa do bar que se fosse em outra época significaria muito mais. Sobram as lembranças que valem a pena sobrar (as ruins a gente esquece, ficam pequenas demais com o tempo) - os sorrisos, os abraços, as manhas, o cheiro, o sexo, acordar junto...- e que a gente revive de novo e de novo quando se lembra do filme favorito, da comida que sempre comia junto, das festas que costumavam frequentar. E é bom isso. Amar é bom.

Amor é coisa que acontece.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sobre dor, o que fica e o que passa

Não existe música que explique. Livro que descreva. Chocolate que absorva.

Dor não é gripe, não é coisa que dá e passa.

Pois eu sofri, sofri bastante, e se disser que não sofro mais estaria mentindo.

Sabe como eu me sinto? Como se eu tivesse corrido quilômetros e quilômetros e chegasse à lugar nenhum. Enquanto eu vivia nessa esperança cega, eu voava, eu nunca toquei esse solo frio e duro, e agora eu caí. Mas eu caí feio, viu? Foi pouca merda, não. Eu segui uma bússola quebrada e me perdi. Fiquei tanto tempo em cima do muro sobre desistir ou persistir, e sempre que eu decidia largar tudo ele me aparecia e dizia "vem que vai dar certo, pula que eu te seguro". Cadê? Segurou porra nenhuma. Olha pra mim, toda ralada, toda estabacada, olhando pro céu e tentando encontrar um bom motivo pra me levantar.
Como um tapa na cara que tivesse acabado de ser dado, e eu andando na rua e todo mundo vendo a marca da mão vermelha no meu rosto.

O problema era o jeito que ele me olhava. Por Deus, juro que ele via meu olho, e atrás do meu olho meu cérebro, e atrás de tudo minha alma, e era onde eu sentia aquele frio que desce todo o corpo, que me fazia respirar fundo, me fazia sorrir sem mais nem menos. Que era onde eu estava, por trás de quilos de corpo, sangue e tudo o mais que se dê pra ver - tudo o que eu sou sem ser de verdade. Pois pra ele era tudo isso uma grande transparência, e o que ele via e tocava em mim era muito mais fundo que isso. Ele se aproximou tanto de mim, eu deixei, era uma sensação boa, ter alguém tão em você que você não precisava fingir absolutamente nada, que não faria sentido algum, mesmo. E cada vez que ele me olhava eu sentia que eu dava algo de mim. Ele não tirava; eu dava, eu jogava pra ele. Mas ele não pegava.
Ele. Não. Pegava.
Eu via isso? Não sei. Ele estava de braços cruzados, e eu tola que sou, que sempre fui e provavelmente sempre serei jogava partes importantes de mim pra ele, partes frágeis, como se fossem de porcelana.
Crash. Crash. Craaaaaaaash, uma por uma caía e se espatifava no chão.
Diz pra mim, o que é que acontece com a gente, quando a gente gosta de alguém, que a gente não vê uma merda dessas acontecendo?
E aí, ele se virou um dia e foi embora. O que sobrou? Sobrou isso que se dá pra ver, recolhendo todos os quilos do resto de um eu que eu nem sabia que poderia se desprender de mim - mais ainda, que eu poderia voluntariamente, deliberadamente, estupidamente desprender de mim pra jogar na vala.



Pois cada vez que a gente tem que se recolher a gente fica diferente. Fica mais frio. Mais fechado. Como não? Não existe uma marca na testa indicando quem fará bem pra gente. Poderia existir, yeap, mas não existe. Supere.
Sei bem o que dizem. Que é assim mesmo, que a gente tem que quebrar a cara, que vão aparecer melhores, que estarão de braços abertos pra receber com amor o que tivermos a oferecer para eles. Me falam que eu mereço mais que isso. Melhor que isso. Que não vale eu sofrer por isso.
Show.
Manda me adicionar no Facebook, que eu procurei horrores e até agora nada.

Mas te digo uma coisa, com a certeza de quem sabe que dois e dois são cinco: a gente fica, sim, mais forte.
Quero dizer, em pequeno/médio prazo. Na hora se alguém dissesse que minha blusa me engordava eu entrava em colapso histérico. E na hora eu quero dizer nas largas horas que se transformaram em dias desde que eu caí. Mas hoje já é uma dor intocável. É uma dor que não encontra mais forças pra aumentar. Diminuir aos poucos, um passo de cada vez. Não adianta dizer "sai dessa" e parará, magicamente a Xuxa derruba o meu baixo-astral. Mas com o tempo ela (a dor, não a Xuxa) vira uma cicatriz muito pequena, dessas que a gente mostra com orgulho pros outros, lembrando dos tempos de moleque quando a gente sabia de tudo e nada, mas nada mesmo, poderia nos afetar. Pra lembrar que a gente erra. E que a gente aprende. E que a gente se cansa de olhar pro céu, que de nada nos ajuda, e decide se levantar por conta própria. Cair de novo, obviamente, mas cada vez mais seguro do tamanho da queda.

E que uma hora ou outra a gente se levanta. E que talvez um dia a gente vá cair pro lado certo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Das 9 Razões Que Te Fazem Ser Única

Isabella,

Há alguns dias você me perguntou o que eu mais gostava em você. Eu fiquei te olhando, olhando seu corpo, seu cabelo, o jeito que você me olhava e se divertia com meu silêncio...não consegui responder. Você não se importou, ou pareceu não se importar; fechou os olhos sorridente e dormiu. Mas eu não dormi. Não, eu fechei os olhos mas continuei acordado, tentando fragmentar esse bloco que é meu amor por você, pedaço por pedaço dos motivos que me cegam para outras mulheres que não você. Eu demorei, Bella, mas consegui separar 9 desses motivos, 9 entre milhares, 9 que me fazem te desejar cada dia mais, 9 que te fazem ser a pessoa mais especial que eu já conheci na vida.

9 MOTIVOS QUE FAZEM VOCÊ TÃO ÚNICA:

1º - O jeito como você muitas vezes finge estar dormindo, só para eu deitar do seu lado ou não fazer barulho nem falar qualquer coisa que seja, já que seu humor pela manhã é escrotamente variável e o menor som pode me fazer perder um membro;

2º - O seu gosto musical absurdo, que mescla Chico Buarque, Lady GaGa e Avassaladores na mesma playlist, torturando meus ouvidos;

3º - A maneira como você me leva à loucura sussurrando indecências ao pé do ouvido em lugares públicos enquanto repousa a mão "inocentemente" no meu sexo;

4º - A forma como você se apóia na janela sentindo o vento no rosto e cantando (mal, mas eu adoro) como se estivesse na estrada;

5º - A maneira como qualquer roupa minha cai muito bem em você, seja meu casaco em uma dessas noites frias do Rio ou aquela blusa velha que você fica usando pra lá e pra cá em casa;

6º - Seu rosto, que fica de um jeito quando saímos, com toda aquela maquiagem complicada que realça sua feminilidade, e de outro em manhãs simples, com o cabelo desgrenhado que você faz pouco caso e que só aumenta sua doçura;

7º - Suas dobrinhas, tão condenadas pelas academias e pela moda, mas que são deliciosas de apertar e morder - te deixando furiosa por um segundo antes do desejo arder em você e me queimar inteiro;

8º - Suas deliciosas pequenas surpresas, tão cheias de carinho e afeto - abraços e beijos do nada, invasões na hora do banho, um doce pro jantar, um carinho antes de dormir - esses teus pequenos mimos cheios de um encanto, de um feitiço único quase sobrenatural, que me enlaça como uma mãe enlaça seu recém-nascido;

9º - O jeito que você explora todos os meus sentidos, me emputecendo algumas (várias) vezes, me afundando em alegria e prazer em outras mas, principalmente, me enchendo de amor e dessa necessidade louca por Isabella que coloca o seu corpo e suas vontades na frente de qualquer pensamento meu.

domingo, 14 de novembro de 2010

Só esse, só esse, só esse.

Era seu primeiro cigarro verdadeiramente seu. Sem amigos sentados à seu lado, tomando uma cerveja e falando de tudo. Sem amigos na boate barulhenta embriagados por cigarettes and alcohol. Era só ela, só ela. Só ela.

Acendeu, foi para a janela. Amanhã iria comprar uma bala e um higienizador de mãos. Odiava o gosto que o cigarro deixava na boca, odiava o cheiro que impregnava as mãos, o cabelo, as roupas. Mas naquela hora ela sentia-se cheirando à tristeza, à choros e palavras presas na garganta, à frustração, cheiros que parecem ser sentidos à quilômetros de distância. Um cheiro a mais não faria diferença naquela hora. Se tomasse banho, cheiros tão ruins quanto o cigarro continuariam ali, que diferença faria?

Deu o primeiro trago, soprou devagar, suspirou. Olhou pra cima, as luzes ofuscavam quase todas as estrelas. Encontrou um brilho tímido, encarou-o com firmeza e murmurou como sempre fazia quando criança: "Estrelinha, estrelinha, a primeira que vejo, por favor, realize o meu desejo". Encarou-a com ternura e completou "Dê-me mais alegrias que tristezas; rode a roda do fortuna para o outro lado. Por favor, estrelinha, faça-me sorrir mais do que chorar". A estrela piscava como se a ouvisse e ela sorriu com a boca fechada. Estava cansada demais para se privilegiar com um sorriso.

Sentiu seu corpo se entorpecendo com o cigarro dentro de si. Já era tarde, ia acordar no dia seguinte cedo. Deixou-se embalar sem música, pousou os olhos ao longe. Tinham sido dias difíceis aqueles, talvez até meses - não saberia dizer. Como passa rápido o tempo! Começou a contar os dias que faltavam praquele ano acabar e desejou que os dias passassem mais rápido ainda, pra acabar aquele ano cão cheio de tantas coisas ruins que a fizeram acender aquele cigarro. Pressão, pressão, estresse, desentimentos, cobrança, pressão, aquilo já soava como uma sirene irritante, um alarme de carro que não deixa a pessoa dormir, por mais sonolenta que estivesse. Pensou em seus amigos, na sua importância na vida deles e deles na sua, nos infortúnios do destino, do azar que é querer ter sorte. Querer ser feliz sempre. Querer ter um amor de verdade. Querer brigas terminadas na mesa do bar, rindo. Querer dançar sem medo. Querer voar sem medo. Seria muito pedir essas coisas? Não é uma coisa natural? Se tantas pessoas procuram, porque seria tão difícil encontrá-las?

"Tsc. Que merda."

Tragou de novo, olhou a brasa corroendo as bordas do cigarro, devagarinho, até dele não sobrar mais nada. Se sentia como aquele cigarro: Tinha tantas coisas boas a oferecer a quem a quisesse, mas era corroída. Se desfazia fácil. Estava à um passo do fim - só sobraria um nada, inútil até à ela própria. Precisava daquele cigarro como aquele cigarro precisava dela (qual a importância de um cigarro se não há quem o fume?). Não era viciada em jogos, em sexo, em bebida, em drogas, em brigas, em trabalho, em estudo, em cigarro, nada - nem pretendia se tornar. Mas aquele corpo, aquele corpo sem vicíos era pesado demais, machucado demais, frustrado demais, a pele cheirando de uma maneira tão repugnante que era demais pra se sustentar.
Respirava fundo, tentando livrar seu corpo de todas aquelas toxinas em cada expiração carregada - não as toxinas do cigarro, não. Essas poderiam ficar por lá, penetrando em cada nervo, enchendo-os de debilidade, enfraquecendo-os a ponto de não saberem mais como transportar aquela negatividade toda que corria seu corpo mais rápido do que ela conseguia segurar, entender e principalmente, querer. Precisar. Aguentar. Tentava se livrar da mágoa, da dor, do coração partido e dos olhos ardidos.
Terminou o cigarro, ficou ali um bom tempo, encarando-o. Fazia tanta idéia do que seria dele como fazia idéia do que seria dela, que era a mesma idéia que fazia de alguma conta gigantesca de matemática. Gostava um pouco daquela sensação, de não ter idéia de nada, de estar cansada e embriagada demais para conseguir pensar nos castigos que sofreria da vida ao acordar na manhã seguinte, do que teria que lidar e passar e engolir para ter um pouco de paz, um pouco de serenidade, um pouco mais de alegria.
Jogou a ponta do cigarro no lixo, apagou as luzes, foi dormir. Deitou, agradeceu aquele momento de solidão, de torpor e de completa ignorância ao seu redor. Satisfeita, se permitiu, apesar do cansaço, sorrir.
Ainda cheirava à tudo aquilo, mas agora tinha uma nova fragância pairando, leve como o mar: era o aroma doce e ingênuo da esperança.

domingo, 8 de agosto de 2010

F.A. I

Eu vou postar aqui. Juro que vou.
Tenho mil textos semi escritos, mas é coisa de inspiração que dá e passa e eu leio e acho lindo o que escrevi e fico parada, esperando a inspiração acabar de tomar o chá dela e voltar pra mim.
Mas decidi postar depois de mil comentários e perguntas do tipo 'você quem escreve?', 'os textos são seus mesmo?', 'nem parece que foi você, você nunca passou por isso', blablabla, etecetera, etecetera.
Prometo voltar aqui em breve com algo novo e brilhante feito purpurina. Por ora, deixo meu colega Nandinho Pessoa explicar a autoria dos textos.
Abraços flw aê.


Dizem que finjo ou minto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.


Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.


Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê !

domingo, 13 de junho de 2010

À ele.

Me desculpa.

Eu sei, eu sei, é uma maneira meio idiota de começar. Mas acho uma boa idéia começar pelo sentido central. Enfim.

Me desculpa, de verdade. Você pode achar que não há nada pelo que pedir desculpas, mas há - é óbvio que há, não seja ingênuo. Eu estraguei tudo e com uma eficácia...se eu fosse tão boa em, sei lá, medicina, como eu sou boa em estragar as coisas entre nós, eu teria descoberto a cura da paralisia ou o que quer que seja.

A questão entre nós é que havia essa ponte. Você daí, eu daqui, nenhum dos dois podia cruzar essa ponte. A gente jogava aviõezinhos de papel, gritava em megafones, fazia o diabo pra diminuí-la. Mas é óbvio que ela não diminuía. A gente podia fingir que sim, mas a verdade é que ela sempre foi - e sempre será - longa, desagradavelmente, impiedosamente longa. E não há nada que possamos fazer. Pensávamos em cruzá-la, fazíamos esses planos pra chegar ao outro lado, imaginávamos como seria quando tivéssemos nossos braços finalmente entrelaçados. Doce ilusão.

Mas o fato de não haver nada para melhorar não significa que não havia nada que pudesse piorar a situação. Nããão, não, havia muitas coisas - e eu, com maestria, experimentei um pouco de tudo. Eu criei obstáculos, barreiras pro som do megafone e pra travessia dos aviões. Me doía não poder cruzar a ponte e eu sei que lhe doía por igual. Ou até mais. Porque, veja bem, você nunca tentou me afastar de ti. Você sempre foi tão paciente e tão brincalhão enquanto eu me desesperava, perdia a sanidade, o juízo. Te empurrei pra muito muito longe depois clamei para que voltasse.

Você não precisava ter voltado. Mas voltaste, pro mesmo lugar que lhe era de direito - seu lado da ponte, meu lado esquerdo do peito. E essa distância entre peito e ponte continuou a me agoniar, a me estrangular e eu já não sabia mais o que eu queria. Eu te queria do meu lado, mas sabia da impossibilidade, me irritava, me frustrava e não te queria mais era de lado nenhum. Não queria mais vê-lo. Não queria mais sentir a queimação dentro de mim, essas borboletas no estômago quando o pegava me olhando com olhar tão manso, quando o pegava sorrindo abobalhado com meus devaneios. Então eu fiz.

Eu fiz a coisa mais estúpida que eu poderia ter feito.



Eu quebrei a ponte. Com uma marreta gigantesca, um serrote, uma dinamite.

É, uma dinamite. Eu explodi a ponte. Eu impedi que você pudesse chegar à mim e vice versa. Eu acabei com o sofrimento, com a dor. Durante muito muito tempo eu achei, de coração, que tivesse acabado com a causa desse nó no coração.

Bom...eu nunca fui lá muito inteligente.

A verdade é que sempre que eu penso num sorriso acolhedor, sempre que eu penso em alguém que me faça sentir leve, sempre que eu penso em alguém pra abraçar à noite, eu penso em você. Completamente involuntário, mas que diferença faz? Eu penso, ponto, acabou. Eu disse à mim mesma que não precisava de você e veja a situação em que me coloquei agora. A verdade é que uma vida de dois não pode ser acabada por um. Se fosse pra ter um final, que não tivesse sido dessa maneira tão bruta. Eu senti o fim chegando e quis cortar o mal pela raiz. Quis sentir a dor de uma vez só e seguir em frente. Quis ter o coração quebrado em uma martelada só. Mas não cabia a mim quebrar o seu, fingir que não me importava com ele.

Sou patética pelas minha atitudes, mas o lado positivo é que eu tento mudá-las. E é essa a idéia aqui.

Eu achei que, uma vez explodida, eu tinha virado as costas e seguido minha vida. Mas não. Eu continuei parada. E você, provavelmente chateado, foi-se embora. Fez muito bem, lógico. Seria idiotice sua ter ficado ali, esperando eu mudar de idéia. Tu deves ter tomado um rumo e eu fico feliz em saber que está bem, que está feliz. É egoísmo meu pedir para que voltes. Eu sei. Eu provavelmente o magoarei e me magoarei de novo. Provavelmente mais a você do que a mim. Mas eu não consigo evitar, meu bem, eu não consigo. Eu estou aqui, prego por prego, reconstruindo essa ponte. E esperando. Esperando você voltar. Pro seu lado da ponte, que seja. Longe de mim, so be it. Pode ser que, de fato, seja estupidez eu querer sentir seus olhos em minha alma novamente, mas, como eu disse, eu nunca fui lá muito esperta.



Me desculpa.