segunda-feira, 7 de maio de 2012

Vício

(latim vitium, -ii) 

s. m.
1. Defeito ou imperfeição.

2. Prática frequente de acto considerado pecaminoso.
3. Tendência para contrariar a moral estabelecida. = DEPRAVAÇÃO, LIBERTINAGEM
4. Hábito inveterado. = MANIA
5. Dependência do consumo de uma substância (ex.: vício do álcool).
6. Erro de ofício.
7. Erro habitual no uso da língua.
8. Mau hábito ou costume que as bestas adquirem.


Eu sou uma viciada. 

Dizem que o primeiro passo pra superar um problema é admitir que você tem um e falar sobre isso. E eu estou admitindo. E eu estou dizendo que eu quero superar. Por isso, vou lhes contar minha história.

Não sei quando entrei nesse vício. Acho que, como todas as drogas, eu comecei achando que não era nada. Que eu poderia me livrar quando quisesse. Que eu não sofreria com a abstinência. Que era, como dizem? Casual. E era bom, e eu me sentia bem, eu me sentia bem mesmo quando me sentia mal. E isso cresceu, cresceu tanto dentro de mim que eu já não me imaginava direito sem. Não parecia certo sem. Chegou a tal ponto que me trazia mais desconforto que acalanto, mas eu ainda assim não abria mão. Chegou a tal ponto que eu já sabia que não tinha mais controle, mas eu não fiz nada. Eu me deixei ser alastrada, como um câncer que você desiste de tratar e só deixa aquilo ali crescendo em você, te destruindo um pouquinho a cada dia.

Tentaram me alertar. Por Deus, muito mais de uma, duas, setecentas vezes. No começo eu pensava que os outros não viam o que eu via, mas depois eu descobri que era eu que não enxergava o que era tão óbvio. Aos que me alertaram e eu não ouvi, peço desculpas. A gente tem que cair pra perceber o tamanho da dor do tombo. Eu caí. Me levantei. Caí de novo. Fiz isso tantas vezes que não tenho ideia do número. E a promessa de que 'a partir de agora vai ser diferente, a partir de agora eu estou no comando e só usarei doses moderadas' foi uma grande mentira. Eu voltava sempre, sempre exagerada, sempre angustiada, sempre por poucos momentos de êxtase pra depois cair de novo.

Me sinto muito boba falando isso. Muito idiota, escrevendo tudo. Espero ler um dia e pensar 'como eu fui idiota, como eu era idiota'. Enquanto eu escrevo eu penso em parar, fechar tudo, ir dormir e amanhã eu verei tudo de uma maneira diferente, vou pensar diferente, mais claro, vou saber lidar melhor. Mas eu acho que é isso que todo viciado pensa. Por isso eu vou continuar escrevendo.

Eu já tentei parar. Algumas vezes, tentei várias coisas pra me afastar de tudo aquilo. Pra me sentir indiferente. Força de vontade eu sempre tive. Mas é que às vezes o nosso corpo, o nosso coração se desentende com o cérebro. Não ouve a voz da razão. E aí você volta ao vício mesmo sabendo que tá errado. Que não vai te levar a lugar nenhum. Que não vai te trazer bem nenhum, gente, bem nenhum.

Até que você cai com tudo, de novo. Só que tem vezes - como essa - que dói mais do que as outras.

E de novo eu me encontro tentando parar. Tentando largar. Tentando seguir em frente. E dizem que admitir, falar em voz alta, contar pros outros ajuda a gente a ter uma dimensão maior e melhor, e só assim a gente pode avançar. Então eu digo à vocês que eu vou tentar parar, dessa vez pra valer. Por mais idiota que pareça escrever isso, por mais que eu ache isso de escrever e compartilhar ridículo, eu pelo menos estou tentando. De novo.

Eu sou viciada em alguém, alguém que não merece nenhuma linha de pensamento, nenhuma música de dor e de amor, nenhum segundo de uma noite em claro pensando em como seria legal a gente juntos, e pensando em todas as vezes que a gente brigou e que de alguma forma acabava tando tudo bem, ele errou, eu errei um pouco - nunca. Eu nunca era a errada nas situações, mesmo que ele insistisse no contrário e eu acabasse cedendo por cansaço e por gostar demais pra não querer que acabasse. Eu errei nessa de gostar de alguém que não merece ser gostado. Que não merece nem um sorriso, muito menos uma lágrima. Eu errei, e continuo errando.

Continuo errando porque, por mais que a gente saiba do erro, a gente insiste nele. Não por idiotice. Não por esperança. Não por fé.








Por vício. E eu sou uma viciada. Uma viciada. Uma viciada tentando largar o vício. Essa é a minha história.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quando o amor acaba

Quando acabou? A maioria das pessoas não sabe dizer ao certo, mas eu sei. Um dia eu acordei e sabia que ele não estava mais lá. Que ele tinha ido embora. O amor pegou as coisas dele, bateu a porta e saiu pra não voltar.
E não foi culpa de ninguém. Foi culpa da vida, mas a gente não pode exatamente culpar a vida - as pessoas culpam, mas é como culpar o ar pela sua nota em uma prova. A vida é uma coisa tão maior que você e ao mesmo tempo é você - como culpar alguma coisa tão sem substância e tão maleável assim? Não dá, gente. Não cabe.
Como eu ia dizendo, não foi culpa de ninguém. O que acontece é que o amor, como todas as coisas, acaba. Definha. Perde peso. Às vezes se renova, e é bonito quando acontece, mas às vezes não. Não é bonito, mas acontece como tantas coisas acontecem e não são bonitas nem feias - simplesmente acontecem. Também não é triste. Tem uma melancolia própria, mas tristeza? Não. Tem aquela saudade boa, mas não mais do que isso. Não abre um buraco no seu coração, não te deixa sem rumo...é só uma coisa que acontece.
Eu acordei, sentei na cama, respirei e senti. Só senti. Olhei as coisas em volta, as roupas, os perfumes de cada um, as fotos juntos. Peguei uma delas e me veio a sensação de que aquele casal da foto não era mais o mesmo. Nada tinha acontecido; o sentimento que havia naquela foto não estava mais lá. Só isso.
Ele entrou no quarto, olhou pra mim sem dizer nada, sem sorrir. Eu olhei de volta, igual. Eu suspirei, ele sentou na cama. Eu o abracei, ele apertou forte meu braço. Eu senti as lágrimas caindo do meu rosto, o encarei e ele chorava também. A gente se beijou. E foi um beijo bom. Foi um beijo por tudo que a gente tinha vivido. Todas as coisas boas e todas as coisas ruins.

Foi um beijo de despedida.

Eu disse "foi tão bom....". Ele sorriu, segurou meu rosto com as mãos e disse "foi mais do que bom. Foi a melhor coisa que podia ter me acontecido". Se levantou, me deu outro beijo curto e saiu. Me deitei, tentando sentir no gosto do beijo o amor que durante tanto tempo me consumiu - mas nada. É o que dizem, que amor é fogo que arde. Arde mas apaga. É eterno enquanto dura, mas apaga. E quando chega a sua hora, não há lenha que atice. Não é infinito. Apaga.

E o que sobra? Além das fotos, dos presentes, dos amigos feitos juntos, dos amigos dele que viraram meus e dos meus que viraram dele. Sobra o carinho um pelo outro, aquele olhar na mesa do bar que se fosse em outra época significaria muito mais. Sobram as lembranças que valem a pena sobrar (as ruins a gente esquece, ficam pequenas demais com o tempo) - os sorrisos, os abraços, as manhas, o cheiro, o sexo, acordar junto...- e que a gente revive de novo e de novo quando se lembra do filme favorito, da comida que sempre comia junto, das festas que costumavam frequentar. E é bom isso. Amar é bom.

Amor é coisa que acontece.